Se prepara que lá vem textão.

Essas perguntas (e as frases: “você nem é tão gorda”, “isso é preguiça”, “falta de vergonha na cara”, “é só fechar
a boca”) sempre vem de pessoas que nunca souberam o que é ser gordo ou não
estiveram nem perto, ou conviveram, com alguém que sofre de obesidade, porque sim, OBESIDADE
É UMA DOENÇA.
Pessoas que não sabem o que é nascer
com quase 5kg, ver os coleguinhas comendo, quando criança, e comer com eles e
ser repreendida até por adultos dizendo que é por isso que tá gorda (“mas eles
estão comendo também...”). Ouvir a famosa música: gorda, baleia, saco de areia. Fazer
dieta desde os 11 anos de idade por não se achar tão bonita quanto as coleguinhas
do colégio, por ser sempre AQUELA GORDINHA, como referência. Usar sempre tamanho de roupa maior que os da
sua idade e viver fazendo bainha nas calças. Não se sentir capaz de ser a
atração daquele garoto que todas as meninas desejam. Querer usar uma fantasia de princesa da disney, mas você já viu alguma princesa da Disney gorda?
Pessoas que não sabem como é
andar na rua (estar andando, você não fez nada pra ninguém, simplesmente estava indo
para algum lugar) e ouvir de uma janela de ônibus ou carro e até mesmo de uma
moto passando: “GORDAAAA”. Pelo simples fato de alguém querer zoar com a sua
cara ou ser preconceituoso mesmo. E a gente pode até dizer que não, mas machuca
sim. Dizer "não" é só pra fingir que aquilo não te atinge e eu sempre fui muito
boa nisso. Ninguém precisava saber o quanto eu chorava quando tava sozinha por
ser gorda, fora dos padrões. Desejar ter nascido com outro corpo.
Ir à uma loja comprar roupa
sempre foi o terror. Minha irmã sempre conseguia comprar qualquer roupa que
cabia, agora pra Karina... Se tem uma coisa que sempre foi um terror pra mim é
comprar roupa porque você vai em todas as lojas, mas não tem o seu tamanho. Aí tem
que ser naquela loja para pessoas gordas que as roupas são o olho da cara. Pois
é, loja para gorda...
E não adianta uma pessoa falar
pra mim que é feliz gorda que eu não vou acreditar. Não tem como você ser feliz
passando por tudo isso, não tem como estar bem com você mesma se você mal consegue
tomar banho. Gente, isso é real!!! Eu nunca estive com o peso que eu tava
quando operei e entrei em desespero quando comecei a ter dificuldades para
fazer as coisas básicas da vida como ir ao banheiro. Acho que ninguém nunca
parou pra pensar nisso. Eu sou uma gorda saudável, meus exames pré-operatórios são lindos. O único agravante era a degeneração que tenho em dois discos
vertebrais, o que causa muita, muita dor. Fora as dores nos joelhos e pés, até porque eram 113kg em cima deles. E SIM, é muito peso. Imagina daqui uns anos.
Eu nunca gostei de ser gorda.
Nunca gostei do meu corpo. Usei biquíni até uns 11 ou 12 anos. Me privei de ir
à praia ou parques aquáticos. Shorts??? Tenho apenas dois no meu armário. Talvez
se eu não tivesse sofrido tanto eu não tivesse tanta vergonha do meu corpo.
Talvez se eu não tivesse visto aquele olhar de preconceito me esperando passar
pela roleta do ônibus pra ver se eu ia entalar nela e rir da minha cara. Aquela
frase: tinha que ser gorda; ou aquela: gordo fazendo gordice.
Você, que não é gordo, não sabe a
influencia que o seu olhar preconceituoso tem para uma pessoa que sofre com
esses problemas todos os dias.
E não vem me falar que eu não sou
gorda, que eu sou fofinha porque o meu peso no meu corpo não me deixa gorda, mas se
você está acima do peso está enorme. Por que os quilos a mais em mim não me deixam gorda,
me deixam fofinha, e os quilos a mais em você te deixa a pessoa mais gorda do
mundo? Ah, é porque eu sempre fui “cheinha”.
Mas, depois de tanto engordar e
emagrecer quilos e quilos, com 27 anos na cara e todos os complexos a serem
resolvidos, decidi fazer a cirurgia bariátrica. Depois de resistir, depois de
mais de 20 anos de dieta, lutando contra a balança, 20 anos de “vou tentar de
novo”, ou “dessa vez eu não engordo mais”. Decidi com a ajuda da minha irmã,
claro (ela sempre soube que, se eu continuasse assim, uns anos mais tarde ela poderia não me ter mais por perto). A que sempre sofreu comigo desde pequena todas as minhas angustias e
frustrações e que também foi uma daquelas pessoas a me chamar de gorda, porque na hora
de brigar com a irmã tem que ser onde dói, senão não tem graça. Mas era briga
de irmã. Hoje sei o quando ela sofria tudo junto comigo. Ela sabe tudo que
passei, tudo que senti e até a dificuldade de me relacionar com as pessoas por
vergonha do meu corpo. Ela tava mais feliz que eu com a cirurgia. Parecia pinto
no lixo quando eu aceitei ir à consulta. Ela entrou nos grupos do facebook e me
levou junto para participar da melhoria da vida das pessoas operadas, foi nas consultas
que ela pôde comigo, no dia da cirurgia me levou pra internar e ficou lá comigo,
até no centro cirúrgico ela tava lá. Eu não vi, mas ela tava (hahaha). E ainda
voltei da anestesia gritando por ela (é muito amor). No dia seguinte ela chegou
com um sorriso de orelha à orelha me acordando, me dando beijo e toda feliz com
o NOSSO SONHO REALIZADO. Ficou até me dando água de coco na boca de 10 em 10
minutos. E ai é que vem a pior parte, o pós-operatório, que foi a parte que fez
eu pensar: por que eu fiz essa cirurgia? As duas primeiras semanas são o terror, mas
ela tava lá, do meu lado. “Que arrependimento o que?! Vai passar. Ficou anos
sofrendo com a obesidade. O que são 4 semanas de dieta restrita???” E sim, o
arrependimento passou. Claro que iria passar.
2 semanas de operada e 13kg a
menos. To gostando, to feliz. Realizada.
E para vc que ainda acha que essa
é a opção mais fácil para uma pessoa obesa...
Que pena de você.
Obrigada a todo mundo que ficou do meu lado me apoiando desde o início, além da minha irmã e da Bruna (que agora está se dedicando horrores no meu pós). rs
Amo todos vocês. Amo demais.
Obrigada a todo mundo que ficou do meu lado me apoiando desde o início, além da minha irmã e da Bruna (que agora está se dedicando horrores no meu pós). rs
Amo todos vocês. Amo demais.